Saber se o ceratocone tem cura é uma das primeiras dúvidas que o paciente tem ao receber o diagnóstico da doença. A resposta é simples: cura, não tem, mas tem tratamento e quanto mais cedo a doença for descoberta, maiores são as chances de se preservar a boa visão.
O que é o ceratocone
O ceratocone é uma doença que afeta a córnea, o tecido transparente na parte da frente do nosso olho. O problema começa quando este tecido enfraquece e se torna gradualmente mais fino, assumindo um formato abaulado e irregular, semelhante a um cone.
Sintomas de ceratocone
O ceratocone provoca alterações na curvatura da córnea e essa mudança física resulta em distorções das imagens que enxergamos. Chamamos de perda da acuidade visual.
A irregularidade na superfície corneana aumenta graus de miopia e de astigmatismo. Sendo assim, os primeiros sintomas de ceratocone estão relacionados à falta de nitidez visual.
Os principais sintomas do ceratocone são:
- Visão desfocada,
- Duplicação de imagens,
- Halos em torno de luzes,
- Sensibilidade ao brilho excessivo,
- Necessidade de mudanças frequentes no grau das lentes corretivas,
- Embaçamento da visão.
Geralmente o ceratocone começa a se manifestar no início da adolescência e tende a progredir até os 30-35anos, quando ocorre uma estabilização da doença por um processo natural de enrijecimento da córnea.
Em geral, o ceratocone não causa a perda total da visão. No entanto, a anomalia pode prejudicar sua visão funcional, dificultando atividades rotineiras como dirigir, ler, trabalhar, etc.
Causas para o ceratocone
O ceratocone é classificado como uma doença multifatorial, por existir diversas condições envolvidas ao seu aparecimento, como fatores ambientais, genéticos e biomecânicos.
A origem genética costuma afetar apenas 10% dos pacientes. No entanto, diante da história familiar de um parente de primeiro grau com ceratocone, monitorar os demais membros da família é de extrema importância, pelo risco aumentado de também desenvolver a doença.
Um terço das pessoas diagnosticadas com ceratocone apresentam algum tipo de alergia incluindo rinite alérgica, bronquite asmática, dermatite atópica… Quadros que, muitas vezes vêm associados à crises de conjuntivite alérgica e prurido (coceira) ocular.
O hábito de coçar os olhos é o principal fator de risco associado ao aparecimento e progressão do ceratocone. Pessoas alérgicas têm o reflexo de esfregar os olhos para aliviar o incômodo, sem perceber que essa fricção pode agredir a superfície da a córnea e predispor ao surgimento do ceratocone.
Também foi observado pelos pesquisadores a associação frequente de ceratocone com pessoas com doenças do colágeno como Síndrome de Down, de Ehlers-Danlos, de Marfan, e até pacientes com osteogênese imperfeita, que é uma doença hereditária dos ossos.
Classificação do ceratocone
O ceratocone é mais conhecido por ter um formato de cone, mas a irregularidade da córnea pode variar.
De acordo com essas variações morfológicas, o ceratocone é classificado em:
- Redondo: a dilatação da córnea é pequena e fica concentrada na parte central;
- Oval: bastante comum em estágios avançados, atinge uma parte um pouco maior da córnea e a ponta da dilatação fica deslocada mais para baixo;
- Global: a irregularidade se espalha por praticamente toda a córnea.
Como diagnosticar ceratocone
O diagnóstico de ceratocone é feito pelo oftalmologista. Durante a consulta, o médico pergunta sobre seu histórico familiar e realiza exames de rotina nos seus olhos, como a retinoscopia e a refração (exame de grau) que já podem dar indícios da presença da doença.
Por meio da biomicroscopia ocular, feita com uma lâmpada de fenda que usa lentes de aumento para permitir detalhar o exame das estruturas oculares, o médico consegue detectar sinais de ceratocone em desenvolvimento.
No entanto, as distorções não aparecem nesse exame quando a doença está em fase inicial. Outros testes mais específicos podem ser solicitados para obter mais detalhes sobre a curvatura da córnea. Estes exames incluem a topografia da córnea (que avalia a face anterior deste tecido) e a tomografia de córnea (que avalia além a superfície anterior e posterior do tecido, sua curvatura, espessura e elevações).
Tratamentos para ceratocone
Os tipos de tratamento para ceratocone variam conforme o estágio em que a doença se encontra. As opções dependem da gravidade da condição e do ritmo de evolução da doença. O controle de alergias oculares ou alergias sistêmicas associadas é fundamental para uma boa evolução clínica do ceratocone.
Geralmente usa-se duas abordagens para tratar o ceratocone:
- Estabilizar a doença, evitando assim sua progressão e
- Reabilitação visual, melhorando a qualidade e quantidade da visão.
Portanto, mais de um procedimento pode ser recomendado conforme o caso.
- Óculos ou lentes de contato gelatinosas: conseguem corrigir a visão distorcida quando o ceratocone está em estágios iniciais.
- Lentes de contato rígidas: são lentes de acrílico que utilizam o filme lacrimal da pessoa para criar uma superfície regular, melhorando assim a quantidade e qualidade visual do paciente. No entanto, não inibem o avanço do ceratocone.
As lentes rígidas podem ser lentes corneanas (repousam apenas sobre a córnea), semiesclerais ou esclerais (repousam sobre a esclera, tecido branco que reveste nosso olho).
Anel intracorneano ou intraestromal:
Trata-se de uma órtese acrílica que é implantada no interior da córnea, buscando reduzir a curvatura acentuada que foi gerada pela doença. Seu implante pode ser feito manualmente ou com laser.
É um procedimento pouco invasivo e reversível. Não há ainda comprovação científica de que o anel é capaz de impedir o avanço do ceratocone e mesmo após o seu implante, é comum ser necessário o uso de óculos ou lentes de contato rígidas.
Crosslinking de córnea:
É hoje a única técnica com comprovação científica de ser capaz de estabilizar a doença, impedindo sua progressão. É feita com aplicação de riboflavina (vitamina B2) em associação a radiação ultravioleta do tipo A (UVA).
Existem critérios necessários para a realização do procedimento, como transparência da córnea, uma espessura corneana mínima e sinais clínicos de que a doença se encontra em progressão. O crosslinking não tem objetivo de reabilitação visual.
Transplante de córnea:
Solução indicada para os casos mais graves e avançados, em que a córnea está bastante prejudicada (presença de cicatrizes ou curvaturas extremas que impeçam a realização dos demais tratamentos).
O procedimento consiste na remoção da porção mais central da córnea (cerca de 9mm) e sua substituição por um tecido doado. Este tecido é então suturado (“costurado”) no leito receptor.
É um procedimento mais invasivo, com maior tempo de recuperação e mais riscos relacionados (como rejeição do tecido, glaucoma secundário…). Mesmo após o transplante é bastante comum ser necessário o uso de óculos ou lentes de contato rígidas.
As chances de melhora na visão são maiores se a doença é detectada e o tratamento instituído nas fases mais iniciais da doença.